
Como foi acordado no início deste blog, para além de tudo quanto seja efectivamente paranormal, comprometemo-nos a transmitir todo o tipo de conhecimento que extravase esse reino mas que com ele esteja conexo. Deste modo, decidimos hoje debruçar-nos sobre uma criatura que de bonito não tem nada mas que sobrevive no folclore das tribos nativo-americanas de dialecto Algonquiano, nomeadamente os índios Ojibwa, Innu e Cree.
Os chamados "Wendigo" são habitualmente definidos por estas tribos como gigantes com o coração feito de gelo, enquanto que nas restantes tribos a forma de gigante não é adoptada, sendo figuras humanóides. Comum a todas as descrições é o facto de o Wendigo ser uma criatura esqueletal, somente com pele e osso, variando a cor daquela, indo de cinza a verde seco, o corpo deformado, sem lábios particularmente definidos ou ensanguentados e sem dedos dos pés. Os primeiros relatos de existência deste mito remontam ao século XVII, dos escritos de missionários e exploradores do Novo Mundo, onde configuram a criatura também como um demónio.
O mito do Wendigo surgiu aliado a práticas canibalistas, acreditando aquelas tribos que a) ou uma pessoa se transformava em Wendigo se consumisse carne humana ou b) fosse possuído em sonhos pelo espírito de um Wendigo e acordasse do sonho com uma vontade voraz de comer outros homens e efectivamente o fizesse (se apanhassem o George Clooney havia de ser giro...já não havia Ocean's 14 pra ninguém.). A causa de transformação que se acreditava ser a maior era a de se recorrer ao canibalismo como salvamento de uma situação de fome extrema, sendo esta prática um tabu para as tribos em causa. Daí configurar-se a transformação em Wendigo quase como um castigo ou, numa acepção mais light, um aviso para quem tivesse a ideia brilhante de comer alguém...o que se justifica com a existência de longos e frios Invernos em algumas zonas do Norte da América, onde imperava a escassez de mantimentos transformando uma perna de índio guisada numa ideia agradável para alguns. Para mais dissuadir o pessoal de se comerem uns aos outros, mais rezava a lenda que, quando não havia carninha para comer, o Wendigo comia musgo e outro tipo de comida nojenta que aparecesse. Se se olhar bem para a figura do Wendigo, facilmente associámo-la a duros Invernos e falta de comida. A magreza, as cores, o próprio coração de gelo são bem representativos desse aspecto.
Uma versão da lenda conta que os Wendigos seguem as pessoas nas florestas, esperando que entrem em paranóia e cometam um erro, altura em que a criatura as apanha. Se eventualmente alguém consegue escapar, à noite terá pesadelos horríveis e começará a entrar em delírio febril, despindo-se e desatando a correr nu pela floresta e (surprise!) aí ser apanhado pelo bicho.
Como muitos mitos, a transposição para a realidade é muitas vezes possível, abarcando, neste caso, a forma de doença mental, chamada a "Psicose de Windigo", condição médica na qual a pessoa acredita piamente ser um Wendigo ("canibal" no dialecto Algonquiano), tendo desejos incontroláveis de consumir carne humana mesmo com comida "normal" disponível, sendo esta situação muitas vezes decorrente de uma experiência canibal prévia. Nas tribos indígenas norte-americanas, o surgimento desta situação muitas vezes resultava na tentativa de "curar" o indivíduo com as habituais mézinhas dos bruxos ou no pedido do paciente de que o executassem antes que fizesse mal a alguém (o que aconteceria eventualmente se as mézinhas não resultassem...). Relatos da existência de casos de "Psicose Windigo" datam do fim do século XIX, princípio do século XX (o caso "Swift Runner" - um marido que comeu a mulher e os cinco filhos - e o caso "Jack Fiddler" - o shaman índio que acreditava que derrotava os Wendigos praticando eutanásia nos pacientes da Psicose (acabou por pôr termo à própria vida depois de ter sido preso por homicídio...). O caso mais recente é de 2008, onde a decapitação e canibalização de um passageiro de autocarro em Manitoba revela bastantes reminiscências do comportamento associado à Psicose Windigo.
Referências ao Wendigo podem ser encontradas em livros de Stephen King ("Pet Sematary"), Alan Moore ("League of Extraordinary Gentleman"), Michael Crichton ("The 13th Warrior"), em jogos de computador ("Diablo II", "Final Fantasy X", até há um Digimon chamado "Wendigomon" hehe), em filmes ("Wendigo" de Larry Fessenden - onde o Wendigo é representado como metade homem metade veado...não tem muita conexão com a lenda, é só mesmo o nome, isto para além do filme ser maaaau...) e até nos comics da Marvel (onde encontramos um bicho mais ou menos do tamanho do Incrível Hulk, com imenso pêlo...mais parece o King Kong.). Na televisão, podemos ver a criatura num episódio da série "The Invisible Man", bem como num da série "Supernatural", cujo título é mesmo "Wendigo" e a criatura apresenta, para além dos traços que já referimos, uma rapidez de movimentos tremenda e a capacidade de mimicar vozes humanas. A maneira de o matar é a que já sabemos, derretendo-lhe o coração, neste caso com um flare (daquelas pistolas que o pessoal usa pra disparar uma luz quando está perdido). Eficaz. Mas ao menos fisicamente é relativamente similar ao que conta a lenda.
Bem, por hoje ficamos por aqui e lembrem-se: se forem acampar, levem um maçarico.
Adieu!!
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